Diálogo sem Mondlane? União Europeia acusada de incoerência
O recente debate em torno do Diálogo Nacional Inclusivo em Moçambique tem levantado sérias questões sobre a postura da União Europeia (UE). A ausência de Venâncio Mondlane, agora líder do partido recém-legalizado Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (ANAMOLA), é vista como um contrassenso em relação às declarações públicas da própria União Europeia, que havia defendido a sua inclusão no processo.
Mondlane e a luta pela inclusão
Com a legalização do ANAMOLA, diferentes forças políticas e sociais moçambicanas passaram a exigir a participação de Venâncio Mondlane no diálogo. O político demonstrou disposição em contribuir, tendo apresentado propostas de reformas ao Estado e ao sistema eleitoral.
No entanto, ainda não existe clareza sobre quando e se o partido participará efetivamente no processo. Essa indefinição aumenta a pressão sobre a União Europeia e a Comissão Técnica responsável pela coordenação.
União Europeia sob questionamento
O partido português Iniciativa Liberal (IL), através do deputado Rodrigo Saraiva, enviou uma carta à União Europeia solicitando esclarecimentos sobre os critérios de financiamento do Diálogo Nacional.
De acordo com a IL, em vez de canalizar os fundos diretamente para a Comissão Técnica, a União Europeia optou por fazê-lo por meio de organizações da sociedade civil, como o Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) e a Fundação MASC. Esta decisão levanta dúvidas sobre transparência, coerência política e destino dos recursos.
“Há uma incoerência entre os compromissos assumidos pela UE e a sua implementação prática”, afirmou o deputado em entrevista à DW África.
Preocupações com a representatividade democrática
Para a Iniciativa Liberal, a exclusão de Venâncio Mondlane põe em risco a credibilidade do Diálogo Nacional. Segundo Rodrigo Saraiva:
- Nas últimas eleições, Mondlane representou a vontade expressa da maioria dos moçambicanos.
- Qualquer exclusão da figura mais votada pelo povo é motivo de séria preocupação democrática.
- A União Europeia não pode, por um lado, defender a presença de Mondlane e, por outro, financiar um processo que o ignora.
Contatos e apoios internacionais
O deputado português destacou também que a Iniciativa Liberal tem mantido contatos com diferentes atores moçambicanos: políticos, sociedade civil, empresários, cidadãos comuns e até portugueses residentes em Moçambique. O objetivo é acompanhar de perto a evolução da situação.
Saraiva considera que a criação do ANAMOLA representa um passo fundamental na luta democrática pacífica e vê Venâncio Mondlane como um ator incontornável para a reconstrução política e social do país:
“Não é possível pensar numa reconstrução política e social em Moçambique excluindo Venâncio Mondlane.”
O silêncio da União Europeia
Apesar das críticas crescentes e da pressão internacional, tanto a União Europeia como a Comissão Técnica do Diálogo Nacional ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o assunto. A expectativa é que o tema volte a ser discutido no Parlamento Europeu assim que os trabalhos forem retomados.
No entanto, a dúvida persiste:
- A União Europeia conseguirá manter a coerência entre o discurso e a prática?
- Ou a ausência de Mondlane acabará por comprometer a credibilidade do processo em Moçambique?
Conclusão
O debate em torno da participação de Venâncio Mondlane no Diálogo Nacional Inclusivo expõe contradições entre os discursos oficiais e as decisões práticas da União Europeia. A forma como essa questão será resolvida poderá definir não apenas o futuro do processo de diálogo em Moçambique, mas também a própria imagem da União Europeia como parceira democrática no continente africano.
Este artigo faz parte da cobertura especial sobre política e democracia em Moçambique, trazendo análises e atualizações sobre os desdobramentos do Diálogo Nacional Inclusivo.
